Aberto aos domingos
19/09/2013

Aberto aos domingos

Durante alguns anos, o debate sobre o fechamento dos supermercados aos domingos ficou esquecido. De uns tempos para cá, no entanto, a baixa oferta de mão de obra colocou maior força nas negociações dos trabalhadores com seus patrões. Por meio dos sindicatos, o descanso de domingo voltou à pauta das reivindicações num momento em que esse dia já se tornou um dos melhores da semana em vendas para o setor. Embora as discussões tenham sido acaloradas em várias regiões do País, tem sido difícil para o varejista chegar a uma conclusão a favor ou contra o fechamento das lojas no domingo. Afinal, em cada região, os hábitos e as necessidades dos clientes mudam, assim como os estilos de vida. Justamente por isso a principal recomendação é entender o que o consumidor da sua loja quer.
"A abertura aos domingos é uma resposta à demanda da própria sociedade. Uma grande parcela da população trabalha exaustivamente de segunda a sexta-feira e só tem tempo de ir ao supermercado no fim de semana. Ignorar essa necessidade é ir na contramão das expectativas do consumidor", avalia Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de S. Paulo). Segundo ele, fechar nos quatro domingos do mês representaria uma perda de 20% a 30% das vendas. Quem concorda é Mercedes Portaballes Mosquera, diretora do Supermercado Madrid, loja independente no bairro paulistano de Higienópolis. Ela lembra ainda que o estilo de vida de uma capital como São Paulo não é igual ao do interior, o que pode levar o varejista a decisões diferentes quanto a abrir ou não aos domingos. Entender o consumidor é tão importante, que o Sincovaga realizou uma pesquisa com 200 pessoas da capital paulista. Segundo o levantamento, 64% são contra o fechamento aos domingos, pois utilizam o fim de semana para fazer as compras com maior tranquilidade e também para realizar pesquisa de preços. Já o percentual dos que concordaram com o não funcionamento foi de 32%. O estudo também pediu que os consumidores apontassem o melhor dia da semana para os supermercados serem fechados. A segunda-feira foi a mais citada, com 48% das respostas. Mesmo se houvesse viabilidade e interesse do setor supermercadista em não funcionar nesse dia, o ideal seria avaliar caso a caso. Existem lojas, em bairros específicos, que contam com vendas expressivas em determinados dias da semana.
O mesmo levantamento procurou saber a opinião dos comerciantes. Das 100 empresas varejistas ouvidas, 88% são a favor da abertura aos domingos. Afinal, 25% dos respondentes da pesquisa disseram que, tirando o sábado, esse é o segundo dia de maior movimento. Só perde para sexta-feira com 45% das citações. Embora os varejistas da cidade de São Paulo tenham uma opinião já formada sobre o tema, isso não acontece no interior, onde é comum ocorrerem conflitos entre as grandes redes e as locais. "As empresas maiores precisam abrir aos domingos para atingir suas metas e compor o fluxo de caixa", analisa Furtado.
Outro ponto que dificulta uma conclusão sobre o fechamento aos domingos é a preocupação com a concorrência. Alexandre Poni, sócio do Verdemar, afirma que poderia fechar as seis lojas da rede em Belo Horizonte (MG) nesse dia se as padarias também baixassem suas portas. Por essa e outras razões, o autosserviço alimentar mineiro ainda não chegou a uma conclusão sobre o tema. Já em São Paulo, uma proposta era que a iniciativa atingisse apenas lojas com mais de 50 funcionários. "O correto é pensar nos supermercados como uma categoria. Não adianta um abrir e outro fechar, independentemente do porte da empresa", acredita Mercedes, do Madrid.
A maior pressão pelo fechamento aos domingos, contudo, vem dos sindicatos que representam os trabalhadores. Entre os argumentos a favor estão o de que seria possível reduzir custos com horas extras e diminuir o turnover. Isso porque uma das principais queixas dos empregados é a carga horária estendida e o trabalho nos fins de semana. "Por isso, o colaborador não hesita em mudar de emprego, pelo mesmo salário, quando aparece uma oportunidade de trabalhar apenas de segunda a sexta", afirma o presidente do Sincovaga.
No Espírito Santo, o acordo coletivo com o sindicato dos trabalhadores definiu o fechamento aos domingos em 2009. Embora as empresas tenham registrado queda no turnover, em alguns casos, os índices ficaram aquém do esperado, como o do Extrabom, 22 lojas. "A rotatividade era de 55% ao ano antes de fechar aos domingos. Depois passou para 50% e em 2012, registrou 42%", afirma Luiz Coelho Coutinho, diretor-presidente da rede. Convém lembrar, no entanto, que não existe rotatividade zero. Mas, em tempos de escassez de mão de obra, é preciso dosar entre o que é melhor para a equipe e para os negócios. Só assim a empresa prospera.

FECHADO AOS DOMINGOS

Desde 2009, o fechamento aos domingos já é uma realidade no Espírito Santo. De acordo com Hélio Hoffman Schneider, superintendente da Acaps (Associação Capixaba de Supermercados), a decisão faz parte da Convenção Coletiva de Trabalho, firmada com o sindicato, e atendeu uma reivindicação antiga da categoria. Entre os principais benefícios da medida para os supermercados estão a diminuição da rotatividade de mão de obra, ganhos de produtividade em função de maior satisfação dos colaboradores e queda nos custos trabalhistas e sociais. Schneider afirma que a medida não provocou queda nas vendas do setor. "Desde a decisão, o índice de crescimento dos supermercados no Estado tem sido maior do que a média do Brasil", afirma. Apesar de a medida não ter afetado o resultado geral do autosserviço alimentar capixaba, algumas empresas sentiram um leve impacto em seus números. É o caso da rede Extrabom, que tem 22 lojas. Segundo Luiz Coelho Coutinho, diretorpresidente da empresa, foi registrada inicialmente uma redução de 2% a 3% nas vendas. "Esse percentual já era o estimado por nós. Mas, mesmo perdendo vendas, economizamos com energia elétrica e pagamento de horas extras. Isso sem falar na satisfação dos funcionários", diz. Ele afirma não ter diminuído o quadro de funcionários da companhia e conta que a queda nos custos envolvendo toda a parte de pessoal foi de 0,8%. O atendimento ao consumidor também não foi prejudicado. A rede estendeu o horário de funcionamento em uma hora na sexta e no sábado. Para os clientes se adaptarem à mudança, o Extrabom – assim como os demais supermercados do Estado – comunicou antecipadamente a decisão ao público, ressaltando que o fechamento permitiria aos empregados descansarem em companhia da família. Os consumidores também foram orientados a transferir suas compras para outros dias da semana. A decisão de não funcionar aos domingos é revista anualmente em assembleia por representantes das partes interessadas. A próxima reunião acontecerá em outubro.
» 88% dos varejistas apoiam a abertura de lojas aos domingos
» 48% dos clientes apontam a segunda-feira como o dia da semana em que os supermercados poderiam ser fechados
Fonte: Sincovaga/SP
» 20% a 30% é a perda de vendas estimada com a exclusão dos quatro domingos do mês
» 64% afirmam ser contra o fechamento aos domingos
» 24% foi a redução do turnover na rede Extrabom (ES) após o fechamento aos domingos
» 0,4% foi a economia total (pessoas, energia, etc.) do Extrabom com o fechamento aos domingos