Carne Vermelha: considerações clínicas
05/12/2013

Carne Vermelha: considerações clínicas

Por Daniel Magnoni, Cardiologista e Nutrologo
HCor / Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – SP

A carne bovina é uma excelente fonte nutricional. É uma das principais fontes de minerais, em especial ferro e zinco, minerais esses que são indispensáveis para um crescimento saudável, bem como vitaminas e proteínas.
O homem é um mamífero onívoro, ou seja, que se alimenta de carnes e vegetais. Nossos ancestrais buscavam seus alimentos através da caça e da pesca, além de frutos que colhiam, em uma incessante atividade coletora. Com o passar dos milênios, o homem passou a ter outras atividades e perdeu em parte algumas características de caçador / coletor.
Assim, para obter seus alimentos protéicos e de alto valor nutricional, passou a domesticar outros animais. No processo evolutivo, seguiu comendo carne de mamíferos, aves e peixes, além de consumir também alguns de seus derivados como o leite e os ovos.
Nossos ancestrais, como fazem todos os mamíferos, tomavam leite na primeira infância, mas com a domesticação de animais, passaram a tomar leite por toda a vida, sendo que alguns adultos não toleram plenamente o leite, pela incapacidade que os mamíferos têm de absorver a lactose na vida adulta, causa frequente de diarréias e distúrbios do trato intestinal.
Para o crescimento das crianças, minerais como ferro e zinco são fundamentais e a carne é uma excelente fonte nutricional. Além do que as crianças durante o crescimento necessitam de proteínas. As proteínas são fontes de aminoácidos que constituem a base do crescimento, podendo ser exemplificadas como os tijolos de uma construção. A carne bovina, como os demais alimentos de origem animal, são as principais fontes de proteínas de alto valor biológico, ou seja, proteínas que fornecem todos os aminoácidos essenciais para o crescimento. Os aminoácidos essenciais são aqueles que nosso organismo não consegue sintetizar a partir de outros e, se não forem fornecidos, haverá alguma carência.
Não há qualquer contra-indicação para o consumo de carne em gestantes, outra grande dúvida da população geral. Na gestação é importante uma alimentação completa para permitir o crescimento adequado do feto, que por sua vez, também necessita de grandes quantidades protéicas. A carne é um dos principais alimentos que fornecem as proteínas e aminoácidos essenciais para o crescimento fetal.
A freqüência de consumo da carne bovina depende mais dos hábitos alimentares que de uma recomendação nutricional. No Rio Grande do Sul, a carne faz parte dos hábitos alimentares diários da população, que em geral come carne pelo menos uma vez por dia.
Em regiões como a Norte e, mesmo a Nordeste do Brasil, o peixe é mais consumido que a carne bovina. O importante é que se consuma uma alimentação variada, com alimentos de diferentes origens, permitindo uma diversidade de nutrientes, sem restrições que possam interferir numa alimentação completa.
Os problemas de saúde como obesidade, diabetes e doenças do coração não estão relacionados especificamente ao consumo de carne vermelha.
Na verdade, o grande vilão da alimentação humana de nosso século são as gorduras e os carboidratos em excesso. Outro grande vilão é a gordura trans. As carnes não possuem essas gorduras com ácidos graxos “trans”. O consumo de carne com alto teor de gordura pode ser perigoso no tocante a gordura saturada. As carnes, quando consumidas em excesso podem prejudicar os níveis de colesterol e triglicérides, um ponto favorável à carne brasileira é a diferenciação com a gordura entremeada, típica da carne argentina e uruguaia. Grande parte da carne vendida no Brasil possui pouca gordura entremeada, sendo a gordura externa facilmente removida no momento do preparo.
As gorduras ricas em ômega 6, sabidamente são pró-inflamatórias, podem favorecer o aparecimento de doenças cardiovasculares.
Os animais que nossos ancestrais caçavam, em geral tinham pouca gordura, pois estavam soltos e buscavam sua alimentação livremente na natureza. Os animais criados em cativeiro para alimentação humana, algumas vezes têm muito pouca atividade e por esse motivo acumulam grande quantidade de gordura. É preferível o consumo de carne bovina em que os animais sejam criados soltos em pastagens, recebendo alimentação selecionada, mas em movimentos e não completamente estabulados.
Para um crescimento saudável, as proteínas devem fornecer todos os aminoácidos essenciais.
Os vegetais não costumam ter proteínas de alto valor biológico, ou seja, que forneçam todos os aminoácidos essenciais, bem como não são fontes de Ferro, Zinco, Selênio e vitamina B12, importantes para o perfeito metabolismo do homem moderno.
Por fim, o consumo de carne, pode e deve ser estimulado, o problema reside na quantidade e na qualidade da carne apresentada para consumo.