COM ATACADÃO, CARREFOUR BUSCA PORTO SEGURO
03/10/2011

COM ATACADÃO, CARREFOUR BUSCA PORTO SEGURO

assegurar suas operações no Brasil, com fechamento de unidades e conversão de bandeiras. A solução se dá por meio de investimentos no modelo 'atacarejo' - forma de comércio que mistura atacado e varejo - em um momento em que seu principal concorrente, o Grupo Pão de Açúcar, anuncia expansão orgânica com dezenas de inaugurações Inseguro no panorama internacional, o Carrefour começa a executar uma reestruturação que parece ser a tentativa de previstas.
Em um mês, o Carrefour encerrou a atividade de 14 lojas em cinco estados brasileiros, principalmente em São Paulo. Destas unidades, oito eram de bairro, e as outras seis, da bandeira tradicional. Em conversa com sindicalistas, o diretor-superintendente da companhia no País, Luiz Fazzio, afirmou que as lojas foram fechadas por apresentarem déficit e que os estabelecimentos eram alugados. A empresa também começou a adaptar cinco hipermercados, com prazo de noventa dias, para o modelo de 'atacarejo', o Atacadão.
O Carrefour já havia elaborado, em 2010, o plano de reestruturação que passou a executar neste ano. No primeiro semestre, o Atacadão foi o maior gerador de receitas para a companhia no Brasil, respondendo por 75% do faturamento total - tanto que a cadeia popular deverá crescer a um ritmo de 15 a 20 novas unidades por ano, a partir de 2012 -, de acordo com o presidente global da empresa, Lars Olofsson.
Período problemático para a rede no mundo por causa de queda nas vendas na França e pressão de acionistas, o primeiro semestre de 2011 foi marcado pelo destaque das operações brasileiras e a proposta de fusão com o Pão de Açúcar, defendida pelo empresário Abílio Diniz e derrubada por seu sócio, o grupo francês Casino, que é o maior concorrente do Carrefour em sua terra natal.
Para o professor Cláudio Felisoni, que coordena o Programa de Administração do Varejo (Provar), o Carrefour se encontra em maus bocados (mesmo no Brasil) e está atrás da eficiência que perdeu nos últimos anos, por ter priorizado o modelo hipermercadista. "É natural que a companhia passe por um processo de análise e fechamento de lojas."
Quem compartilha da mesma opinião é o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga-SP), Álvaro Furtado. "Eles [Carrefour] estão analisando suas operações e vendo que têm uma grande quantidade de equipamentos que só dão prejuízo. Não dá para manter um buraco onde só entra água."
"Eu acho que é uma tentativa válida de revitalizar a empresa e melhorar suas condições, prejudicadas em muitos mercados", opinou Furtado. "O Atacadão é um modelo que, com administração autônoma e independente, está funcionando muito bem."
Para Felisoni, há no País um questionamento acerca do formato de hipermercado mantido pelo Carrefour, que foi eficaz na época da alta inflação, quando o consumidor precisava comprar tudo de uma só vez, mas perdeu força com a estabilidade econômica, que valorizou aquisições pontuais em lojas de bairro.
Ainda assim, oito unidades de bairro do Carrefour foram fechadas neste mês, todas no Estado de São Paulo. "São lojas que chegaram mais tarde que o Pão de Açúcar. Certamente, apresentaram resultados ruins, em áreas onde o concorrente já estava havia mais tempo", observou o especialista.
"Estrela do varejo"
Em agosto deste ano, Lars Olofsson disse que a bandeira Atacadão já responde por metade das vendas da companhia no País. O executivo classificou a operação do Carrefour no Brasil em duas partes: os hipermercados (que não crescem como o empresário gostaria, segundo ele mesmo) e o modelo de 'atacarejo' ("a estrela do varejo"). Adquirida pela empresa francesa em 2008, a rede Atacadão é composta por 74 lojas - que serão pelo menos 79 até o fim do ano e mais 15 ou 20 por ano a partir de 2012 - destinadas a pequenos comerciantes e consumidores das classes C e D. Paralelamente, há 102 hipermercados e 41 lojas de bairro (já descontadas as unidades encerradas neste mês) sob a administração do grupo Carrefour no País.
A operação brasileira é hoje uma das mais seguras para a companhia, uma vez que na França o ano de 2011 tem sido atribulado para a cúpula do negócio. Em agosto, o Carrefour retirou do cargo seu vice-presidente-financeiro, Pierre Bouchut, que deve assumir em novembro a diretoria de Mercados Emergentes.
Em julho as ações do grupo caíram ao menor nível dos últimos dois anos, depois que a empresa projetou queda de 23% para o resultado semestral, divulgado em 31 de agosto, em função do aumento de preços que o Carrefour promovera no início do ano, na França, precipitando-se ante a concorrência, o que afetou o volume de vendas.
Assuntos sindicais
No Brasil, pelos menos mil funcionários foram demitidos da rede Carrefour neste ano: "Tivemos uma dispensa elevada nos últimos quatro meses. Pensamos que a empresa fosse ser vendida", segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, que na última quinta-feira (29) se reuniu com Luiz Fazzio, o "patrão". Motivada pela potencial demissão de empregados das lojas fechadas do Carrefour, a reunião teve tom "sincero e transparente", de acordo com o sindicalista. Ficou dito que as unidades encerradas eram deficitárias e/ou alugadas e que os funcionários poderiam optar pela transferência de posto, ou por benefícios negociados, caso preferissem o desligamento.
"Desde 1975, é a primeira vez que um dirigente do Carrefour fala com o sindicato", afirmou Patah; "O grupo ficou mais especulativo e a relação com os trabalhadores piorou desde que a Louis Vuitton [grupo LVMH] comprou ações, um pouco antes da crise financeira de 2008". O sindicalista também disse que Fazzio demonstrou convicção e otimismo em relação ao crescimento e à geração de empregos do Carrefour no Brasil. "Os hipermercados deixaram de ser os olhos da rainha", apontou o sindicalista; "A companhia pretende abrir cerca de 20 unidades do Atacadão por ano".
Concorrente, Casino anuncia expansão na AL
Enquanto o Carrefour investe num porto-seguro no Brasil, seu maior concorrente na França, o grupo Casino, que é player forte no País por meio de participação societária no Grupo Pão de Açúcar (GPA), planeja expandir suas operações em países que falam a língua espanhola, na América Latina. O Casino pretende promover aquisições utilizando-se de seu braço Almacenes Éxito, baseado na Colômbia, conforme afirmou o executivo-chefe da subsidiária, Gonzalo Restrepo. -
A Éxito, de que o Casino detém 54,8%, levantou US$ 1,3 bilhão com a venda de novas ações na bolsa colombiana na semana passada e planeja agora usar o dinheiro para pagar uma aquisição no Uruguai. A empresa também espera abrir até 100 lojas na Colômbia e tem um plano de três anos para expandir-se "em países politicamente estáveis" na América Central, no Caribe e na região andina, disse Restrepo.
O Casino tornou-se mais agressivo nos mercados emergentes durante os últimos dois anos, aproveitando o aumento da renda disponível da classe média emergente nos mercados de rápido crescimento da Ásia e da América Latina. A companhia também se beneficiou dos problemas sofridos pelo Carrefour. O Casino comprou os ativos do Carrefour na Tailândia no ano passado e no início deste ano.

Pesquisa: Gestão Informativo-Orus
Veículo: DCI