Cruzamento entre bovinos europeus britânicos X continentais
23/05/2014

Cruzamento entre bovinos europeus britânicos X continentais

Por Roberto Barcellos, engenheiro agrônomo e responsável pela marca Beef&Veal.

Sou contra a generalização dos chamados grupos genéticos britânicos e/ou continentais, pois as raças e/ou linhagens dentro dos grupos genéticos são totalmente distintas. Ou seja, todas as raças britânicas são iguais? Todas as raças continentais são iguais? Segundo um professor: banana se compara com banana e maçã com maçã e nunca se compara banana com maçã.
Sou contra generalizar raça, pois todo animal de determinada raça é igual? Todo vinho malbec é igual?
Também não sou a favor de animais 100% europeus para a produção de carne nas condições brasileiras, inclusive Rio Grande do Sul, afinal um “sanguinho” zebu traz um ganho absurdo a todo sistema, ganho com heterose, rusticidade, conforto térmico, etc.
Touros continentais “modernos” também produzem bezerros pequenos e sem problemas de parto.
Tenho exemplos concretos de raças britânicas com frame alto e acabamento muito ruim, diversos exemplos de alguns elefantes que vemos por aí. Da mesma forma que temos exemplos concretos de raças continentais com frame absurdamente alto e problemas sérios de acabamento. Mas, tenho exemplos concretos de raças continentais com frame baixo e excelente acabamento, o simental sul-africano por exemplo.
Tenho exemplos concretos de cruzamento de Simental x Angus ou Brangus ou Simental X Hereford ou Braford com produtos de excelente rendimento de carcaça e alta qualidade de carne. E também de Nelore com nível de marmoreio do mesmo nível ou até superior aos melhores indivíduos britânicos em marmoreio. Como é a  linhagem Golias – Nelore do Golias em Araçatuba – SP.
Grandes varejistas estão apostando em raças continentais, pois estão cansados de jogar excesso de gordura no lixo. O Pão de açúcar perdeu 100 toneladas de gordura no ano de 2013, devido a exigência do consumidor em comprar cortes extra limpos.
A carne com gordura é preferência de cortes para churrasco que representam 15% dos cortes, os outro 85% são cortes para o dia a dia em que não se aceita excesso de gordura.
Esse padrões podem ser obtidos tanto com “raças britânicas” , “raças continentais”, “raças zebuínas” ou cruzas entre elas, desde que ajustados ao sistema de produção.
Em resumo, acredito que não podemos generalizar, ter paixão ou modismos.
Precisamos dar nome aos bois, ou melhor as raças, ou melhor ainda as linhagens e indivíduos.
O mercado pede alto peso de abate (300 kg de carcaça) e bons níveis de acabamento e tem remunerado mais por isso. Pode ainda não remunerar o suficiente, mas já representa uma clara sinalização de necessidade da indústria.
Como chegar nisso? Cada uma vai buscar seu caminho, sua aptidão. Todos os caminhos devem ser considerados quando houver viabilidade econômica.
Trabalho atualmente com raças britânicas, raças continentais, raças zebuínas, raças africanas e raças japonesas.
Nem sempre o mais eficiente é o projeto de maior agregação de valor
Buscamos o equilíbrio!
O sucesso de qualquer projeto é tentar entender a demanda do consumidor e produzir isso de forma viável!