Esqueça Brasília
02/03/2015

Esqueça Brasília

Com recessão ou não, com escândalos políticos ou não, o consumidor brasileiro tem apetite. Deixe os escândalos de lado e foque no que você pode fazer
Uma passada de olhos pelos números e indicadores divulgados apenas na semana passada pode levar o mais otimista dos empreendedores a requisitar uma receita de PROZAC. E o mais pessimista deles a mudar para Miami. Sim, estamos vivendo uma recessão. Lógico, o país está anestesiado sob os efeitos do “petrolão” e da necessidade de recolocar os fundamentos da economia nos eixos. E é óbvio que, a exemplo dos últimos 55 anos, estamos pautando nossa agenda corporativa pelo que acontece em Brasília.
Não é momento de olhar as metades dos copos. Nem de fugir da evidência de que o país assimila e acusa os golpes do jogo político na capital federal. Mas que tal mudarmos um pouco a agenda e até mesmo deixar de falar de macroeconomia e da agenda política inclusive na hora do café?
O varejo brasileiro está em uma encruzilhada: diversos vetores de mudança estão confluindo para um ponto no qual as mais diversas empresas terão de tomar decisões sérias sobre o seu futuro e o destino do seu negócio: decisões de investimento, expansão, venda, aquisição, reengenharia e reposicionamento estratégico que estão atreladas a um cenário competitivo mutante, volátil e imprevisível.
Um cenário que engloba um consumidor mais conectado, mais impaciente e mais informado, que busca experiências melhores e mais ricas. Novas tecnologias e novos formatos de loja, o avanço do e-commerce, ao mesmo tempo que enfrenta barreiras de segurança. A questão logística, os preços dos pontos comerciais, as falhas na gestão de estoques e no controle de perdas. A queda na renda e a disparada no custo da energia, os juros mais altos. São questões que em algum momento conectam-se com o que acontece em Brasília mas que nem por isso inibem a sua empresa de traçar cenários, táticas e estratégias capazes de promover o crescimento orgânico e sustentado do negócio.
Jack Welch, o implacável e polêmico CEO da GE entre 1981 e 2001, deu um conselho para todos os executivos das diversas subsidiárias da companhia: “se a sua unidade não puder ser a número 1 ou a número 2 no mercado em que atua, conserte, venda ou feche”. O radicalismo da mensagem trazia embutida a necessidade das unidades se superarem, de vislumbrarem formas de se diferenciar e de sobrepujarem os problemas e obstáculos para serem eficientes, rentáveis e lucrativas. Porque sempre há formas de fazer melhor, de fazer diferente. Sempre há oportunidades e recursos no mercado que podem se transformar em resultados surpreendentes no azul do balanço.
Parece impossível desligar dos problemas da agenda política. Há uma inundação de informações cheias de números ruins que desestimulam qualquer prognóstico de crescimento. Pois bem: é isso mesmo? O Brasil sempre emerge melhor das crises. Nossas melhores empresas foram resilientes e ultrapassaram momentos bem piores. É só lembrar que muitos de nós viveram na época da inflação do 1 quatrilhão por cento!
Os mesmos números que são brandidos para estimular o baixo-astral revelam... euforia! Nossos consumidores acabaram de gastar US$ 2,2 bilhões nas viagens ao exterior somente no mês de janeiro. E isso com uma taxa de câmbio que saiu de US$ 2,40 (média de janeiro/2014) para 2,80 (na média de janeiro/2015). Só em dólar, o brasileiro gastou 11,9% a mais que há um ano. Acresça aí mais 13% de variação cambial em 2014, mais 7% só no início deste ano e veja quanto dinheiro nosso consumidor deixou nas lojas... DO EXTERIOR.
Moral da história: com recessão ou não, com escândalos políticos ou não, o consumidor brasileiro tem apetite. Na soma fria dos números, o dinheiro que deixou de irrigar o varejo brasileiro foi, em parte, fazer a alegria do varejo pelo mundo. E aí, novamente, não adianta maldizer o governo por isso. E sim, aprender, entender e aplicar novas ações que permitam motivar o nosso consumidor a comprar AQUI, nas nossas redes, dando a ele uma proposta de valor que vá além do velho binômio “produto/preço”.

 *Por Jacques Meir