Foi dolorido deixar o Pão de Açúcar, diz Abilio Diniz
08/09/2015

Foi dolorido deixar o Pão de Açúcar, diz Abilio Diniz

O empresário conta que teve dificuldade em deixar para trás o patrimônio construído por ele e seu pai e uma história de mais de 50 anos no GPA
O luto de ter saído do GPA terminou para Abilio Diniz. Ao completar oito meses como acionista e membro do conselho de administração do Carrefour Brasil, o empresário – também presidente do conselho da BRF – contou que deixar a companhia fundada por seu pai e na qual trabalhou por mais de 50 anos foi um dos piores momentos que já enfrentou. “Foi um tsunami na minha vida”, disse Abilio sobre o conflito com o sócio francês do GPA, Jean-Charles Naouri, que levou à sua saída. As diferenças começaram em 2011 quando o empresário tentou uma fusão com o Carrefour. Ele conta que, após esse episódio, foram mais de dois anos até conseguir se desligar da companhia. “Não podia sair e deixar todo o meu patrimônio, tudo que tinha construído em mais de 50 anos”, desabafou. O que ajudou a tomar a decisão foi compreender que a cultura e os valores da empresa pertenciam a ele. “Facilitou entender que, para onde quer que eu fosse, levaria tudo comigo”, explicou.
Mas, enquanto não tomava uma decisão, o empresário começou a diversificar seus negócios. Ainda estava no GPA quando, em 2012, comprou ações da BRF. E, após deixar a varejista, tornou-se acionista do Carrefour Brasil no final de 2014. Hoje, por meio da Península Participações, Abilio detém 12% das ações da empresa no País e 5% no mundo. “Estou muito feliz na BRF e no Carrefour. Voltar às minhas origens, ao varejo, me deixa muito satisfeito. Quase não tenho parado no País porque estou visitando lojas do Carrefour”, conta.
Enfrentar as crises
“Sempre cresci nas crises”. Com essa convicção, o empresário fala, que  vencido as dificuldades, sejam elas pessoais ou externas. Ele ressalta, por exemplo, que era vítima de bullyng quando criança, pois era baixo e gordinho. “É possível que isso tenha despertado minha vontade e garra para praticar esportes, o que tem sido bom para mim até hoje”, disse.
Já adulto e empresário bem-sucedido, ele viveu as dúvidas ocasionadas pela ditadura militar. “Nós não sabíamos para onde o País caminhava”. Depois, veio a hiperinflação nos anos 1980. A década seguinte foi marcada pela crise interna do Pão de Açúcar, que exigiu dele ações enérgicas a fim de evitar a falência da companhia. “Foi um momento penoso porque, quando envolve a família, atinge o coração. Mas conseguimos sobreviver”, afirma. Abilio também classifica como muito difícil o período do governo de Fernando Collor de Mello, que terminou com o impeachment do presidente. “Não tenho dúvida de que esse momento foi pior do que este que estamos passando agora”, afirma.
O empresário acredita que Fernando Henrique Cardoso teve uma atuação muito boa e que o governo Lula foi “glorioso para o País”. Afinal, houve melhora na distribuição de renda e aumento do consumo. “Já no de Dilma Rousseff, as coisas começaram a andar um pouco de lado. No segundo mandato, há um enorme problema de ceticismo. A nossa crise é mais política do que econômica”, afirmou.
Abilio, no entanto, fez questão de ressaltar. “Não acreditem que a crise passa e não volta mais. Crise é sinônimo de perigo e oportunidade. Então, vamos fazer desta crise uma oportunidade”, encerrou.