O novo Brasil e a reinvenção do consumo da classe C
27/11/2012

O novo Brasil e a reinvenção do consumo da classe C

Falar em classe C pode parecer vago. A mobilidade social dos últimos anos mudou a cara da classe média brasileira. Aliás, hoje essa classe média tem várias faces e nuances. Ela não está apenas nos subúrbios, está em todos os bairros, nos shopping, nas faculdades, nas favelas e, especialmente, no centro das atenções do mercado de consumo.
E é sobre este novo cenário brasileiro que discorreu o 1º Fórum Novo Brasil, com painéis e opiniões de especialistas sobre as tendências, preferências e rumos da atual classe média e das classes baixas emergentes.
Durante a abertura do evento, Renato Meirelles, do Instituto Data Popular, apresentou cinco tendências para o Brasil até 2022:
1. Empoderamento tecnológico: tecnologia intermediará a relação com consumo, serviços e o estado.
- Os jovens relacionam-se mais com internet e tecnologia do que a geração anterior, que ainda resiste em aliar a tecnologia em atividades cotidianas. Por isso, entre os protagonistas de 2022, a internet e o celular são cada vez mais utilizados para a realização de compras, denúncias das relações de consumo e dos serviços do estado.
 2. Amadurecimento da educação financeira: passado familiar influenciará sua educação financeira.
- O jovem consome mais do que a geração anterior e estão mais exposto às facilidades do crédito e demais serviços bancários. Por outro lado, esse jovem é sempre alertado pela família, que vem de uma trajetória de privações financeiras e aprendizados em relação ao uso do crédito, sobre a necessidade de poupar e precaver-se contra imprevistos futuros. São consumidores mais atentos à necessidade de poupar e planejar sua vida financeira para o futuro.
 3. Valor do mérito: geração que valorizará ainda mais a conquista pelo esforço próprio, a meritocracia e o empreendedorismo.
- Os jovens do Brasil são mais escolarizados que seus pais e, por isso, têm conseguido acessar melhores empregos, obter renda mais elevada e conquistado um padrão de consumo que os pais não tiveram. Por isso, os protagonistas de 2022 tendem a valorizar o esforço pessoal como forma de melhorar a vida, sem esperar que o poder público faça por eles.
 4. Flexibilidade nos formatos de família: relações conjugais tendem a se flexibilizar e o homem precisará se reinventar.
- A nova geração cresceu vendo o ingresso das mulheres no mercado de trabalho. Como consequência, as relações domésticas passaram a ser tensionadas em decorrência de uma maior demanda por igualdade na divisão das tarefas domésticas. Por essa razão, os protagonistas de 2022 tendem a consolidar mudanças no papel do casal dentro do lar. Cada vez mais será esperado que o homem seja mais participativo nas tarefas domésticas e presente nas relações familiares do que no passado.
 5. Relação com o estado: o estado será cada vez mais demandado como regulador do setor privado e o novo cidadão consumidor exigirá cada vez mais e com menos impostos.
- O acesso da classe média a bens e serviços privados tem crescido nos últimos anos, o que faz com que aumente também a demanda pela manutenção da qualidade desses serviços. Em razão disso, o Estado tende a ser mais cobrado como regulador desses serviços e fiscalizador de sua qualidade.
 “O Brasil mudou efetivamente e continuará mudando. Em 10 anos, o jovem estará no auge do poder de consumo e escolha. Muitas mudanças ainda estão chegando. Governo, iniciativa privada e sociedade devem caminhar juntos”, comentou Renato Meirelles.
Favelas são a nova (e indesejada por muitos) face da classe C
Um dos dados mais relevantes divulgados no Fórum foi a mudança do perfil dos moradores de favelas. A contabilização das comunidades no Brasil equivaleria ao 5º maior estado em população no país. Somente as favelas cariocas equivalem à 9ª maior cidade do Brasil, de acordo com informações da CUFA (Central Única de Favelas), apresentada pelo fundador da associação, Celso Athayde.
E o estereótipo do morador de favela pobre, desinformado e marginalizado também deixa de ser real e dá lugar a uma população que consome avidamente (e conscientemente), quer cursar a faculdade e ascender socialmente. Hoje 30% dos moradores de favelas pertencem à classe média e 11% à classe alta. Seus 12 milhões de moradores movimentam economicamente R$ 38,6 bilhões anualmente.
O CEO da Fundação Baobá, Athayde Motta, atentou para o fato de que o Brasil nunca passou por este fenômeno de mobilidade social, portanto hoje as empresas se confundiram com seus públicos-alvo e muitas vezes não sabem para quem falar.
O aquecimento do mercado de combustíveis e a classe média
O presidente da Liquigás, Antonio Rubens Silva Silvino, elucidou sobre como a classe média teve um papel fundamental para o aquecimento do mercado de combustíveis no país, especialmente por alguns motivos básicos como a motorização da população, que cada vez mais compra de carros e motos; maior acesso da população a viagens aéreas e, consequentemente, o aumento do mercado de aviação. Tudo isso impulsionado pelo aumento das concessões de crédito, queda nos preços reais dos automóveis, facilidade de compra de passagens aéreas e aumento da frota.
As marcas mais desejadas e seus atributos
Para a chamada classe C é muito importante ter marcas de confiança. Mas nem por isso estes consumidores deixam de experimentar coisas novas, especialmente quando catapultados pela opinião de amigos e conhecidos.
Para a classe média, a marca funciona como um atestado de qualidade, mesmo porque suas compras precisam ser certeiras, porque apesar de seu potencial consumidor, não estão em condições de desperdiçar.
Apesar disso, 46% da classe média não tem uma marca preferida, aquela que realmente gera identificação. Isso significa para marcas e empresas uma chance única de adequar-se ao perfil deste consumidor tão ativo e achar subterfúgios para ser “a cara da nova classe média”.