O preço do anacronismo
26/09/2012

O preço do anacronismo

O relatório que a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) acaba de divulgar, indicando que o crescimento da economia mundial deverá desacelerar para 2,3% em 2012, pode ser analisado como boa oportunidade para o Brasil. O documento, embora contenha previsão de que nosso PIB terá expansão de apenas 2%, sinaliza as boas perspectivas de crescimento para as nações emergentes e em desenvolvimento.

O estudo deixa claro que a economia mundial, ainda premida pelos grandes abalos provocados pela crise financeira deflagrada em 2008 e pela subsequente implosão dos mercados, não terá fôlego para voltar a crescer nos mesmos níveis da década anterior. Fica muito claro que o problema pontual é a incapacidade das nações desenvolvidas de retornarem ao seu ritmo normal. Estados Unidos e Japão deverão evoluir um pouco, mas a Europa segue em recessão.

Contudo, a Unctad prevê que as economias em desenvolvimento e em transição terão um desempenho muito mais significativo este ano, com aumento do PIB em torno de 5% e 4%, respectivamente. Ora, se pertencemos a esse grupo de países e nos destacamos dentre os emergentes, por que deveremos crescer só 2%, segundo o organismo multilateral, e até abaixo disso, conforme previsões dos agentes do mercado interno?

A resposta é inequívoca: de acordo com o que venho alertando em artigos anteriores, continuamos enfrentando grandes e anacrônicos empecilhos, como os ônus exagerados dos tributos e a sua complexidade, a insegurança jurídica, os intrincados trâmites do comércio exterior e a pesada burocracia sobre as empresas, dificultando sua operação, que vai se agravando pela continuada negativa dos governos em liquidar os créditos tributários legítimos das pessoas jurídicas.

Num cenário de crise mundial, o fabuloso processo de inclusão e ascensão socioeconômica que tivemos desde 2003 deveria ser um trunfo para crescermos mais e consolidarmos nossa economia. Entretanto, por causa de nossos conhecidos e antigos obstáculos, estamos suprindo nosso crescente mercado interno com produtos estrangeiros, numa proporção acima dos limites do razoável.

Exemplo claro desse fenômeno encontra-se no segmento de roupas, que são artigos essenciais: o consumo cresceu 14.210 toneladas, as importações aumentaram 22.918 toneladas e a produção nacional caiu 10.641 toneladas, na comparação de 2011 e 2010. As importações de vestuário vêm crescendo nos últimos cinco anos. Em 2011, quando em comparação com 2010, a expansão foi de 239,13% em quantidade e 332,08% em valor. Isso não é normal!

É louvável o esforço do governo ao reduzir juros, conceder incentivos fiscais, como a redução do IPI para automóveis e os produtos de linha branca; desonerar a folha de pagamento de empresas, lançar pacote de infraestrutura e anunciar o barateamento da energia elétrica. Tudo isso está garantindo a expansão de 1,5% ou 2,5% do PIB em 2012. Porém, o hiato de três ou quatro pontos percentuais que nos separa do patamar de crescimento dos demais emergentes é o duro reflexo do anacronismo do estado brasileiro, que gera ceticismo entre os empresários e investidores, e continua desafiando nossas instituições.

Antoninho Marmo Trevisan é presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.