Origem dos alimentos:
21/01/2015

Origem dos alimentos:



Recalls, rastreabilidade e responsabilidade social. Com uma regulação falha e colapso na qualidade da indústria alimentícia, é preciso informação
A alimentação tornou-se uma das bandeiras mais importantes para o consumidor brasileiro. Rotulagem, informação nutricional, semáforo e a origem dos alimentos agora também entram na pauta.
Com o número massivo de recalls escandalosos e gigantescos de alimentos nos últimos anos e órgãos reguladores que claramente não dão conta da fiscalização adequada, é preciso contar com outros subterfúgios.
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) acaba de lançar a campanha "De onde vem?" para sensibilizar os consumidores sobre a importância da rastreabilidade dos alimentos. Ou seja, a capacidade de se rastrear por todas as etapas de produção, processamento e distribuição até chegar ao consumidor final.
Com a “De onde vem?” é possível se informar sobre as vantagens de conhecer a origem dos alimentos, como esse tema se dá no Brasil e, ainda, se cadastrar para receber mais informações. Foram elaboradas também peças de comunicação sobre o tema, que serão compartilhadas nas redes sociais. As primeiras peças trazem a pergunta “De onde vem?” relacionada a alimentos típicos das festas de final de ano. Em janeiro, outras peças serão veiculadas com os alimentos mais consumidos no verão.
Apesar de não haver regulação sobre o tema no Brasil, como já ocorre em outros países, o Idec realizou uma pesquisa e identificou que algumas redes supermercadistas já possuem programas voluntários de rastreabilidade, porém, ainda insuficientes. O Instituto identificou, em visita aos supermercados, que o maior problema está nos alimentos a granel: apenas 0,06% dos alimentos apresentam alguma informação ao consumidor. Entre os alimentos embalados, são 42,6%. Os alimentos orgânicos têm vantagem - são 56,5% contra 28,7% dos convencionais.
João Carlos de Oliveira, presidente da GS1 Brasil-Associação Brasileira de Automação, em artigo no Canaltech, acredita que é preciso investir na rastreabilidade dos alimentos. Em um trecho do artigo ele explica que "a padronização de dados dos bens alimentares na cadeia de suprimentos se torna cada vez mais necessária e gera maior confiança por parte do consumidor. Com um sistema de identificação em todas as fases de produção dos alimentícios, é possível a localização ágil e segura de cada item. O Brasil não pode perder mais tempo. É preciso investir na rastreabilidade, pois, o mais importante, é estar preparado para enfrentar e resolver eventualidades. Quem faz a lição de casa ganha duas vezes: conquista a confiança do consumidor e abre as portas para o comércio mundial, que também tem sido criterioso quanto ao controle de origem. Tecnologias existem. O que precisamos é que elas sejam aplicadas".
“O ideal seria que nas gôndolas um cartaz indicasse algumas informações, tais como: o produto e variedade, o produtor e o centro de distribuição - quando houver, CPF/CNPJ, endereço, data de produção, lote e se houve uso ou não de agrotóxicos”, explica Renata Amaral, pesquisadora do Instituto.
A rastreabilidade garante mais do que a qualidade e pode assegurar que a empresa adote medidas socioambientais responsáveis e medidas éticas, como, por exemplo, coibição do trabalho análogo ao escravo e a possibilidade de escolher alimentos elaborados próximos ao consumidor, ou seja, com menos emissões de carbono na cadeia de valor. “Além disso, saber de onde vem o alimento e por onde ele passou permite identificar os responsáveis por problemas da cadeia de fornecimento de alimentos, além de dar agilidade aos processos de recall quando há alguma violação sanitária”, reitera Renata.
Com base no artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, que prevê informação clara e adequada como direito básico, o Idec entende que esse tipo de dado deve estar mais acessível ao consumidor, ampliando o seu poder de escolha. Além disso, caso haja alguma irregularidade nesse produto, será mais fácil a adoção de medidas junto a toda a cadeia produtiva.