Otimismo é mantido para o período natalino
31/10/2013

Otimismo é mantido para o período natalino

Apesar de alguns alertas econômicos no primeiro semestre, economistas projetam um bom período para as vendas natalinas. Supermercadistas, indústrias nacionais e importadoras estão confiantes e revelam planos para a ocasião
Com a aproximação do fim do ano, cresce o corre-corre do setor para organizar o sortimento sazonal e, claro, aumentam as expectativas sobre o desempenho das vendas e do faturamento em um momento tão importante do calendário promocional do varejo.
A ansiedade é natural porque, primeiro, se trata de época-chave para a composição da receita anual. Segundo, porque analistas financeiros deixaram o empresariado bastante apreensivo por conta de prognósticos macroeconômicos pouco otimistas feitos no decorrer deste ano.
Para recordar, entre alguns dos desalentos mais drásticos, divulgados no primeiro semestre, estavam as projeções declinantes para o Produto Interno Bruto (PIB), bem como a possibilidade do País fechar o ano com infl ação acima do teto da meta, fixada em 6,5% pelo Banco Central. O índice é uma das maiores preocupações do governo e da população em geral, que perde poder de compra quando ele fica elevado.
Para o autosserviço, a grande vilã do primeiro trimestre foi justamente a infl ação por causa do seu impacto direto sobre a renda, fator do qual o setor também depende para manter ou elevar vendas. Nestes meses, o grupo de alimentos chegou a impactar entre 50% e 60% na variação mensal do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que atingiu 6,7% em junho, a maior taxa desde outubro de 2011.
Veio, ainda, a alta do dólar. Até agora, desde o início de 2013, a moeda norte-americana acumula alta de quase 20% sobre a brasileira, flutuação que incide sobre insumos e mercadorias importadas. O setor trabalha com mix estrangeiro para compor a cesta de produtos tradicionais das ceias de Natal e Ano Novo.
Não bastassem as questões inflacionárias e do câmbio, no meio do ano se espalharam pelo Brasil manifestações populares que reduziram a confiança do consumidor, segundo medições feitas por várias entidades e institutos de pesquisas (algumas são publicadas mensalmente no Caderno de Economia de SuperHiper). Daí ficou a dúvida se o pessimismo da população poderia perdurar a ponto de diminuir as intenções de compra dos itens natalinos.
Na prática
Apesar de tantos pontos em xeque, houve reação da economia, estabilização de alguns indicadores e, como consequência, os analistas reviram as previsões, baseando-as em fatos reais e, com isso, elas foram melhoradas de maneira substancial. "O crescimento de 1,5% do PIB no segundo trimestre, puxado pela agropecuária, foi surpreendente e culminou no ajuste das análises.
A estimativa para o PIB, que chegou a 2,1%, foi corrigida para 2,4%", explica o economista da Abras, Flávio Tayra.
Mas, segundo ele, as vendas dos supermercados são muito mais dependentes do fator renda, que reúne empregabilidade e salário, do que de situações macroeconômicas como o PIB. "O País ainda opera em situação de pleno emprego, com somente 5,3% de taxa negativa em agosto."
A situação momentânea, portanto, é favorável ao varejo alimentar. A pressão inflacionária exercida pelos alimentos diminuiu no segundo trimestre e acabou por baixar os níveis do IPCA, que permanece dentro do centro da meta. "A perspectiva é que a inflação feche o ano em 5,8%", estima o economista da Abras.
Da mesma opinião compartilha o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), Guilherme Dietze. Para ele, o panorama é de reacomodação. "O IPCA ficou próximo a zero em agosto, em julho ocorreu até retração no grupo de alimentos. Significa que, a partir de agora, haverá realinhamento dos preços para baixo por adaptação da demanda, melhora da safra e das condições do clima", analisa o especialista.
Dados do Índice Nacional de Vendas Abras atestam a boa maré setorial. De janeiro a agosto, as vendas reais do setor supermercadista acumularam alta de 4,95% e tudo indica que deverão se sustentar na casa dos 4% até o fim de 2013. "As perspectivas são de vendas aquecidas, mantidas neste patamar. Sem contar que Natal e réveillon são as melhores datas para o comércio, que conta com a injeção do 13o salário na economia", analisa Tayra.
Humor do consumidor
Outros fatores que influenciam diretamente as vendas do setor, como a confi ança e a intenção de compra dos consumidores, se recuperam desde agosto. O Índice de Intenção de Consumo das Famílias, que mede a propensão para consumir em curto e médio prazo, e o de Confiança do Consumidor, ambos da Fecomercio, são exemplos de como a população ficou sensibilizada na primeira metade do ano, mas vem deixando os pessimismos e os temores para trás desde então.
O primeiro índice citado atingiu o menor patamar em julho desde janeiro de 2010, quando foi iniciado, e o outro registrou em agosto o pior resultado desde abril de 2009, o auge da crise econômica mundial. "Agora, visualizamos clara retomada das intenções de compra e de confiança", afirma Dietze. Para o assessor econômico, a recuperação da confiança é ótima notícia para quem trabalha com bens duráveis. A Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE apontou que eletrodomésticos foram os responsáveis por alavancar as vendas do varejo em julho, com crescimento de 2,6% na comparação com o mês anterior. Em relação a julho de 2012, o incremento foi de 11%. "Há uma demanda
reprimida destes bens, por isso a disposição é de vendas em alta", ressalta Tayra.