Trabalhadores abandonam o varejo por falta de perspectiva
29/07/2011

Trabalhadores abandonam o varejo por falta de perspectiva

Não são só os baixos salários, os chefes malas ou a obrigação de trabalhar aos domingos que são os responsáveis pela alta rotatividade no varejo. Os colaboradores mudam de emprego porque não enxergam perspectivas de carreira no setor varejista.

Essa foi a revelação feita por Eduardo Terra, vice-presidente do Ibevar, na última terça-feira (26) durante o “Mesa de Valores”, encontro periódico realizado pela Associação de Lojistas de Shopping (Alshop) com associados.

Somado a uma realidade em que há melhores salários em outras áreas, melhores benefícios e as baixas taxas de desemprego no mercado, o futuro pouco promissor visualizado pelos trabalhadores do varejo responde pelo turn over de 70% ao ano registrado no setor.

O Pão de Açúcar, que registra uma média de rotatividade menor (50% ao ano), o turn over significa a reposição de 50 mil pessoas ao ano nas lojas do grupo. Isso equivale a 200 pessoas novas contratadas todos os dias.

Terra ressalta que é preciso gerenciar o capital humano, um fator crítico da operação para nove a cada dez varejistas. “Quando nossa relação com as pessoas não vai bem, o negócio não vai bem”, nota. “A gestão de pessoas pode ser o diferencial do varejo quando bem trabalhada”, lembra, citando exemplos como Chilli Beans e Magazine Luiza.

A questão passa pela cultura corporativa. De acordo com Terra, não basta importar técnicas adotadas por bancos ou indústrias nem simplesmente aumentar os salários. É preciso conhecer o que querem seus funcionários.

O cenário se torna mais complicado por conta da disputa por trabalhadores. “Sua mão de obra está exposta na vitrine”, diz Terra. Em tempos de baixo desemprego, varejistas e empresas de outros setores assediam os funcionários para tirá-los da sua empresa.

Por isso, os varejistas também devem melhorar a eficiência da capacitação que dão aos novos funcionários. No médio e longo prazo, o turn over tende a diminuir e o próprio sistema tratará de educá-lo. “Mas aí o varejista me pergunta: ‘E se eu treinar e eles forem embora?’. E eu respondo: “E se você não treinar e eles ficarem?’”.

Apesar das dificuldades, Terra diz que não há porque se desesperar. Nos Estados Unidos, a taxa de rotatividade é ainda maior que no Brasil, e mesmo assim o varejo se adequou à nova realidade. “Será que temos que atuar para reduzir o turn over ou aprender a lidar com ele?”.

Quebrar a hierarquia de cargos é uma forma de ampliar o horizonte. Segundo Terra, não é necessário se prender à máxima de que no varejo só pode haver o quarteto vendedor-supervisor-gerente-diretor. Tem de ser como judô, em que a mudança é contínua. “As pessoas precisam sentir que estão progredindo”, completa.

Com um pensamento assim, as empresas podem inclusive evitar custos causados por rotatividade, como o pagamento de benefícios como FGTS, ou outras surpresas desagradáveis, como processos trabalhistas. Só em 2010, dois milhões de brasileiros entraram com alguma queixa na justiça contra seus antigos empregadores.


Pesquisa: Gestão Informativo-Orus
Fonte: No Varejo